quinta-feira, 30 de maio de 2013

Pintura e Pensamento

Roberto Polcan - um artista pensante


Polcan e Carlos


Dos muitos mitos que os humanos cultuamos ou padecemos o da Criação é tal vez o mais difundido em ocidente e também o mais polêmico. Falo aqui daqueles sete dias e o repouso conseqüente durante os quais das trevas fez-se a luz. Aplicado à arte, o termo muda de significado ou adquire um sentido mediado pela obra (a criatura) ou pela vida do artista que passa assim a ser o criador. 

Uma das séries de pinturas de Polcan aqui apresentada não apenas leva o título de Criação com
o pretende mostrar alguns aspectos da paisagem alterada pela labor daquele outro criador ao longo daqueles sete dias. A legenda traz uma interpretação científica deste fenômeno (ou conjunto de fenômenos) que pode ser lida como mais um dos tantos delirios com os quais o homem tenta explicar (infructuosamente) a realidade. O prazer em pintar e o desborde dos materiais que vemos nesta série lembram algumas pinturas conhecidas de Iberê Camargo, de Anselm Kieffer ou aqueles bárbaros de Berlim que tiveram seus quinze minutos de fama.
Aqui temos muito mais uma contenção meditativa: o esboço abreviado (e pensante) de um fenômeno mítico e/ou físico do que a expansão eufórica daqueles desenfreados, para nada pensantes.

O tema pode ser, portanto, inversamente proporcional ao tamanho da obra assim como a dor a quem a cria.
Os filósofos ilustrados (ou Reinterpretando os antigos) é uma série em homenagem a Jostein Gaarder e À espera do novo um conjunto de tres obras recentes que conversam, na galeria, com uma coleção de esculturas e contam, ou parecem contar, os avatares de uma vida de artista: os extremos aqui se tocam.

Miguel Paladino, curador residente