segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
Poema de Jorge Luis Borges
Do original, de Obras completas I - Jorge Luis Borges RBA - Instituto Cervantes: El Golém pg. 885):
El Golem
Si (como el griego
afirma en el Cratilo)
El nombre es arquetipo
de la cosa,
En las letras de rosa
está la rosa
Y todo el Nilo en la
palabra Nilo.
Y, hecho de consonantes
y vocales,
Habrá un terrible
Nombre, que la esencia
Cifre de Dios y que la
Omnipotencia
Guarde en letras y
sílabas cabales.
Adán y las estrellas
lo supieron
En el Jardín. La
herrumbre del pecado
(Dicen los cabalistas)
lo ha borrado
Y las generaciones lo
perdieron.
Los artificios y el
candor del hombre
No tienen fin. Sabemos
que hubo un día
En que el pueblo de
Dios buscaba el Nombre
En las vigilias de la
judería.
No a la manera de otras
que una vaga
Sombra insinúan en la
vaga historia,
Aún está verde y viva
la memoria
De Judá León, que era
rabino en Praga.
Sediento de saber lo
que Dios sabe,
Judá León se dio a
permutaciones
de letras y a complejas
variaciones
Y al fin pronunció el
Nombre que es la Clave.
La Puerta, el Eco, el
Huésped y el Palacio,
Sobre un muñeco que
con torpes manos
labró, para enseñarle
los arcanos
De las Letras, del
Tiempo y del Espacio.
El simulacro alzó los
soñolientos
Párpados y vio formas
y colores
Que no entendió,
perdidos en rumores
Y ensayó temerosos
movimientos.
Gradualmente se vio
(como nosotros)
Aprisionado en esta red
sonora
de Antes, Después,
Ayer, Mientras, Ahora,
Derecha, Izquierda, Yo,
Tú, Aquellos, Otros.
(El cabalista que
ofició de numen
A la vasta criatura
apodó Golem;
Estas verdades las
refiere Scholem
En un docto lugar de su
volumen.)
El rabí le explicaba
el universo
"Esto es mi pie;
esto el tuyo; esto la soga."
Y logró, al cabo de
años, que el perverso
Barriera bien o mal la
sinagoga.
Tal vez hubo un error
en la grafía
O en la articulación
del Sacro Nombre;
A pesar de tan alta
hechicería,
No aprendió a hablar
el aprendiz de hombre,
Sus ojos, menos de
hombre que de perro
Y harto menos de perro
que de cosa,
Seguían al rabí por
la dudosa
penumbra de las piezas
del encierro.
Algo anormal y tosco
hubo en el Golem,
Ya que a su paso el
gato del rabino
Se escondía. (Ese gato
no está en Scholem
Pero, a través del
tiempo, lo adivino.)
Elevando a su Dios
manos filiales,
Las devociones de su
Dios copiaba
O, estúpido y
sonriente, se ahuecaba
En cóncavas zalemas
orientales.
El rabí lo miraba con
ternura
Y con algún horror.
¿Cómo (se dijo)
Pude engendrar este
penoso hijo
Y la inacción dejé,
que es la cordura?
¿Por qué di en
agregar a la infinita
Serie un símbolo más?
¿Por qué a la vana
Madeja que en lo eterno
se devana,
Di otra causa, otro
efecto y otra cuita?
En la hora de angustia
y de luz vaga,
En su Golem los ojos
detenía.
¿Quién nos dirá las
cosas que sentía
Dios, al mirar a su
rabino en Praga?
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
O Golem
No século XVI em Praga, um rabino observa os astros e recebe uma mensagem de ameaça aos judeus. Para proteger seu povo modela uma criatura de argila chamada "o golem". O gigante que ganha vida através de obscuros procedimentos de feitiçaria, apaixona-se pela jobem filha de seu criador. inicia-se assim uma série de confusões e o rabino perde o controle sobre a criatura.O cenário e a fotografia do filme aliados cenas de multidões de judeus ora desesperados ora em júbilo fazem do filme um ícone do expressionismo alemão.
Der Golem
Paramount Films, 1920
Direção: Carl Boese e paul Wegener
Roteiro: Hennk Goleen, Paul Wegener
Atores: Paul Wegener (o golem), Albert Steinnũk, Emst Deutsch e grande elenco
A projeção do filme é sonorizada, ao vivo, por Jorge Peña (percussão) e Eduardo Contrera (teclados)
Antes do filme, leitura do poema O Golem de Jorge Luis Borges por Miguel Paladino.
O filme tem legendas em inglês e é traduzido simultaneamente por Fabio Malavoglia.
sábado, 24 de novembro de 2012
Roberto Polcan/ Eurico Rocha
ROBERTO POLCAN
'Criação' - Acrílico s/madeira ,2012
A pintura de Polcan aqui apresentada não apenas leva o título de “criação” como pretende mostrar alguns aspectos da paisagem alterada pela labor daquele outro criador ao longo de alguns daqueles sete dias. O que vemos parece ser essa paisagem turbulenta que, na perspectiva da mínima galeria, se agiganta e revela a luz, não aquela com L maiúsculo e sim a que vem do fundo da galeria, do jardim.
O prazer em pintar e o desborde dos materiais que vemos nesta tela lembram algumas pinturas conhecidas de Iberê Camargo, de Anselm Kieffer ou aqueles bárbaros de Berlim que tiveram seus quinze minutos de fama.
Aqui temos muito mais uma contenção meditativa: o esboço abreviado (e portátil) de um fenômeno mítico do que a expansão eufórica daqueles desenfreados, para nada portáteis.
O tema pode ser, portanto, inversamente proporcional ao tamanho assim como a dor a quem cria.
EURICO ROCHA
eurico rocha é provavelmente o mais portátil dos artistas que ocupam a galeria nesta exposição com a qual la mínima celebra a conspiração "shandy" que os dadaistas perpetraram na europa nos anos 20. eurico tem o dom de diseminar buena onda e servir tapioca por onde passa. na noite de abertura foi o responsável pelo shandy, mistura de cerveja e limonada com a qual emulamos os nossos pares da frança. "bicho verde" (obra que exibe na exposição) é um desborde de pinceladas rítmicas que pode ser tambem o convite a um mergulho no seu curioso mundo habitado por ciganos, freiras e odaliscas e onde cabe todo aquele que contesta, reclama, resiste, divide, humano ser o un hombre nuevo. pinta vagas nuvens nas horas vagas que nos remetem aos céus de brasilia onde tantas "cabeças" brilharam ao seu redor nos anos oitenta. carrega suas obras e os materiais de pintura de bicicleta, numa valise de couro muito duchampiana..
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
Fernando penteado/ juan Ojea/ Alfi Vivern
FERNANDO PENTEADO
'escrituras' / gaze, tinta, puffing, colagem, cortiça e PVC, 2012
escrituras (obra com a qual fernando penteado participa da coleção de shandys 40 x 40 cm, costura memórias e materiais que (mesmo tendo origens antagônicas a maioria das vezes) se harmonizam e convivem como se tivessem nascido (e crescido) juntos: eis a arte do ferpen que ocupa o mural da nossa página nestes dias que antecedem ao fim do mundo prognosticado pelos maias (teatral e midiaticamente ridículo).Ferpen carrega para o atelier restos do desperdício jogado na rua, antigos objetos que guardam em manchas e rasuras sua própria história, portáteis por essência e amáveis por excelência. Esta é a matéria prima de uma poesia têxtil (por chamá-la de algum modo) com a qual ocupou um grande salão na bienal e ocupa atualmente a sala envidraçada da mendes wood onde acaba de aportar. A obra, afixada com quatro tachas de sapateiro que Fernando trouxe para esse fim.
JUAN OJEA
“laranja partida” Wraping ,tecelagem. algodão e papel fotográfico
laranja partida (além do título desta obra) é uma das tantas "receitas" de tecelagem tradicional. suponho que se refira a uma sequencia de pontos a serem tecidos para obter um determinado desenho. neste caso el inquieto ojea nos brinda con... un juego de palabras donde el color (a cor) suplanta la fruta (naranja) y nos parte el alma (partida) pensando como con estes elementos essencialmente frios pode conseguir essa calidez, a ternura que brota dos fios e o equilibrio inestable que os rolinhos lançam sobre um fundo brilhante tramado de uma fotografia. belissimo trabalho que esta exposto em la minima galeria medindo 40 x 40 cm: portátil e shandy como poucos ja que vem acompanhado de uma embalagem primorosa para poder viajar com esta laranja aonde quiser inclusive circulando como bagagem nas esteiras dos melhores aeroportos do mundo. Agora bem, se alguém perguntar o que veio primeiro: o fundo tramado (como espelho fragmentado) ou a frente de sinuosos roulettes refletidos naquele fundo eu não sei responder. Pergunte ao Juan (está bastante em facebook) que nos informa que laranja partida pode ser comprada por 1.600 reais e a caixa onde viaja por 900.
ALFI VIVERN
'coração de pedra' - escultura – basalto e bronze - corte manual com punteira e pichote – fundição artesanal em areia
alfi vivern revela-nos "uma pequena ideia e um grande mistério". sua escultura é primordial, epifânica, descobre aos nossos olhos o coração de bronze de um ovo de basalto e assim ficamos atônitos, minimizados ante a constatação de que as pe...dras também amam, se metamorfoseam, também, em pães portáteis carregados por uma alça de couro, caixas em cujo interior um filão foi cortado em finas fatias: pequenos misterios e grandes ideias. em suas veias corre o sangue catalão de miró, o portenho de girondo, o curitibano de leminski. menires, labirintos, ferro e fogo com os quais este poeta e escultor deixa sempre pedra sobre pedra: a palavra como começo e fim de sua obra.
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
Jaime Prades
Jaime Prades
Há trinta anos, jaimito (como chamávamos ele nesse então) deixava sua marca em murais enormes nas paredes da cidade com a cumplicidade de Zé Carratu e Carlos Delfino, os tupinãodá. Esta tradição da modernidade reitera o suporte (ou um dos suportes) no qual trabalha hoje: as paredes (ou os restos delas). A diferença é que agora trata-se de paredes portáteis cujos retalhos ou entulhos podemos expor, carregar, levar para diferentes lugares: paredes que agora começam a cantar, latir, vibrar; a brilhar no escuro como diamantes e a gravar na nossa memória (como sempre) uma sensação que somente o prazer de viver pode dar.
As ruínas urbanas são testemunhas da voracidade humana. Migalhas do apetite insaciável de um sistema devorador." Jaime Prades
Há trinta anos, jaimito (como chamávamos ele nesse então) deixava sua marca em murais enormes nas paredes da cidade com a cumplicidade de Zé Carratu e Carlos Delfino, os tupinãodá. Esta tradição da modernidade reitera o suporte (ou um dos suportes) no qual trabalha hoje: as paredes (ou os restos delas). A diferença é que agora trata-se de paredes portáteis cujos retalhos ou entulhos podemos expor, carregar, levar para diferentes lugares: paredes que agora começam a cantar, latir, vibrar; a brilhar no escuro como diamantes e a gravar na nossa memória (como sempre) uma sensação que somente o prazer de viver pode dar.
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
BETO MAINIERI
'sem título' - saída fotográfica adesivada em ps 2mm
isto que aqui vemos, detalhado na página de abertura, não é o céu nem as nuvens que beto mainieri viu no seu voo de paris a sao paulo pela janela do avião. o que aqui vemos é a memória que mainieri guarda daquelas paisagens, ordenadas pelo olhar distanciado daquela emoção, uma junção de fragmentos que nunca formam um todo e conservam, por isso mesmo, a fragilidade de cada um desses momentos representada pelo mutus liber das nuvens: trechos de oceanos, a ilha de cabo verde, variados cumulus e nimbus por doquier... Elaborar um caderno de nuvens pode ser tarefa inesgotável, prazerosa e bastante inútil: ou seja, praticamente uma obra de arte. aqui temos um exemplo disso em 40 x 40 cm. pode ser visto em la minima, galeria faltaria acrescentar que uma obra executada a essa altura e nessa velocidade é essencialmente portátil e que por isso consta do catálogo de artistas shandys.
'sem título' - saída fotográfica adesivada em ps 2mm
isto que aqui vemos, detalhado na página de abertura, não é o céu nem as nuvens que beto mainieri viu no seu voo de paris a sao paulo pela janela do avião. o que aqui vemos é a memória que mainieri guarda daquelas paisagens, ordenadas pelo olhar distanciado daquela emoção, uma junção de fragmentos que nunca formam um todo e conservam, por isso mesmo, a fragilidade de cada um desses momentos representada pelo mutus liber das nuvens: trechos de oceanos, a ilha de cabo verde, variados cumulus e nimbus por doquier... Elaborar um caderno de nuvens pode ser tarefa inesgotável, prazerosa e bastante inútil: ou seja, praticamente uma obra de arte. aqui temos um exemplo disso em 40 x 40 cm. pode ser visto em la minima, galeria faltaria acrescentar que uma obra executada a essa altura e nessa velocidade é essencialmente portátil e que por isso consta do catálogo de artistas shandys.
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
40 x 40 centímetros (diálogo de imagens)
Mais de 40 obras e/ou artistas portáteis reunidos numa inusitada celebração.
La
mínima, galeria
fecha a temporada de exposições 2012 com uma coletiva cujo tema é
o formato: 40 x 40 centímetros (diálogo de imagens). A
característica portátil das obras oferece um marco propício para,
acumuladas, apresentar uma densidade artística pouco comum e um
diálogo cujo tema é o improviso (advindo precisamente dessa
proximidade). Em outras palavras (quiçá mais claras): o pequeno
formato permite apresentar uma grande quantidade de artistas em
uníssono e essa proximidade provoca um diálogo cujo resultado
depende do acaso, algo assim como uma interação inesperada com quem
menos você imagina encontrar num local totalmente fortuito ou
improvável. A arte, neste caso, atenua essa disparatada forma de
diálogo e a converte numa exposição temática. Os artistas (e
amigos) convidados seguem em rigorosa ordem alfabética (já que
alguma ordem deve ser anteposta ao caos que desta iniciativa deverá
surgir)
A modo de explicação
O
museu
portátil
como uma coleção de imagens virtuais dentro de um HD ou milhares
deles armazenados numa nuvem e acessíveis através de um dígito
apertando uma única tecla: eis o cumulo do portátil, eis o mais
denso dos panoramas.
Esta
recente e banal forma de colecionar dados e imagens não existia
quando duchamp,
picabia
e seus amigos dadás, criaram a sociedade secreta dos artistas
portáteis descrita com todas suas peripécias e aventuras
mirabolantes por enrique vila-matas na história
abreviada da literatura portátil (1985).
A história
narra as andanças de um grupo de intelectuais, pintores e escritores
que, em 1924, decidem fundar uma sociedade secreta. Conhecidos como
portáteis ou shandys –
uma homenagem a Tristram
Shandy,
personagem de Laurence Sterne e a um refresco a base de cerveja – o
grupo, seletíssimo e obscuro, tem entre seus ideais o amor à
escrita como diversão, o espírito inovador e a autoria de obras que
pudessem caber facilmente em uma maleta ou “valise” como duchamp
bem disse. (ou debaixo do braço de uma criança, como digo bem eu
com a trena marcando 40 centímetros).
O vila-matas (op.cit) lembra
algumas passagens memoráveis desses dadaístas que aqui transcrevo:
“o que foi reduzido se
acha, de certa forma, livre de significado. Sua pequenez é, ao mesmo
tempo, um todo e um fragmento. O amor ao pequeno é uma emoção
infantil”
duchamp.
“só as sensações
mínimas e de coisas pequeníssimas são as que vivo intensamente.
Talvez isso acontece por causa do meu amor ao fútil... é por que o
mínimo por não ter em absoluto nenhuma importância social ou
prática tem, por causa dessa mera ausência, uma independência
absoluta de associações turvas (ou difusas) com a realidade. O
mínimo me soa sempre irreal, até os livros inspirados preferíamos
curtos”.
George Antheil
Ao que Paladino, o curador,
acrescenta: até as grandes obras preferimos pequenas, ou mínimas,
como a nossa galeria.
Celebramos assim aquela
sociedade dos anos 20, não menos secreta do que efêmera que
vila-matas descreve com suma propriedade e sugerimos o tamanho
(mínimo) como estratégia estética contraposta ao gigantismo da
cidade que ruge da pequena porta da galeria para fora. Aqui dentro
imperam: o silêncio de Cage, o vazio do mundo e a cor inexistente.
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
A ventura do risco (lays Brandini)
desenhos funâmbulos e barro modelado: um abismo cheio de estórias
Os materiais são essenciais: barro e grafite sobre papel. Assim como eles, os desenhos não fazem nenhum alarde, parecem estar ai para mostrar um ritmo, uma música antes que uma figura, uma cadencia que traça, ritmada e constante, com ventura sempre, o amplo risco, as sinuosas elipses que andam no meio fio, na corda bamba: funâmbulas
O resultado da modelagem em argila parece estar ai, tambem, com o propósito de instigar antes que representar. As esculturas irradiam um ar de mistério e contaminam o estreito ambiente da galeria com estórias que, contadas em silêncio, reverberam acima do barulho da cidade que passa ao lado.
Fomos transportados aos anos setenta e vemos um desenho do futuro, lembramos da famosa Semana e do radical africano, dos muitos sabores da América, estamos perdidos nesta minúscula imensidão que abre, como um abismo aos nossos pés, a arte de Lays. Bem vindos a este mínimo paraíso.
sexta-feira, 15 de junho de 2012
Layus, Roberval (Junho de 2012)
O
currículo tem que ser curto
Mesmo
que a vida seja longa
Wislawa
Szymborska
Conheci
o Layus, Roberval, na década de oitenta, chegando numa festa com uma
garrafa de vinho no bolso do casaco. Naquela época tudo era
fervoroso, um pouco alucinante e pleno de esperanças. Acreditávamos
tanto na revolução, o amor se dizia livre, éramos felizes e o
sabíamos. Nesse redemoinho de sexo drogas e rock n´roll
destacava-se algo estático, persistente, de uma solidez inusitada:
eram as portas e as esculturas que o Rô (assim o chamamos desde
sempre) entalhava no seu atelier. Nem tudo que era sólido
desmanchava no ar. A arte consistia, aparentemente, em retirar partes
daqueles blocos, tanto de madeira como de gesso, e imprimi-los de uma
forma harmônica, avivá-los daquela matéria bruta e conceder-lhes
um anima que resultava, precisamente, da ausência daquelas partes
que ele retirara
O
que aqui vemos exposto é resultado de mais de trinta anos deste
ofício de escultor; o entalhe da madeira em pequenos modelos (que
aqui não aparecem) dos quais resultam os múltiplos, fundidos à
cera perdida ou maciços, a pátina como um recurso pictórico
acrescido ao polimento, combatendo-o, e sobre tudo a persistência da
abstração concreta, da figura humana sugerida, alimentada por esse
vazio onde parece encontrar sua alma.
Agrega-se
a este conjunto, como uma conseqüência que parece inevitável, uma
série de dezenove pinturas. Vistas aéreas de plantações
imaginárias ou construções utópicas que contem os retalhos da
cera, do bronze e do alumínio, as lascas do cedro e da caxeta que o
despreocupado pincel imita e traça meticuloso, uma geometria
orgânica onde reina o evidente prazer da pintura, o equilíbrio
expressivo, a cor e a forma em estados quase puros: matéria da qual
nascem estas construções pictóricas. Numerá-las como
identificação supõe uma seqüência que pode ser infinita e as
coloca num nível de desbordante criação artística semelhante
àquela na qual acreditávamos na noite da garrafa de vinho no bolso
do casaco.
A
instalação que Bruno Layus imaginou para o estreito corredor de
La mínima coloca frente a frente estas obras e submete o visitante a
uma visão estereofônica onde o rigor das pátinas reverbera em
brilhos e lampejos coloridos que as esculturas emprestam dos guaches.
Tudo parece, assim, fazer sentido, realizar a utopia sonhada pelo
layus, Roberval, diariamente executada: sem fatigar o espírito, a
goiva substitui o pincel, o formão ocupa o lugar do grafite, o bloco
de cedro é uma página em branco que deve ser riscada, um mapa
imaginário cujos múltiplos caminhos levam sempre ao centro do nosso
coração, absorto e emocionado.
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